Zé Dambrós quer levar experiência comunitária à Câmara de Caxias do Sul

Após duas suplências, José Pascual Dambrós vai compor bancada do PSB em seu primeiro mandato. Filiado desde 2007, atualmente é vice-presidente municipal do partido.

De cantor de conjunto gaúcho a comunicador de rádio comunitária, José Pascual Dambrós, o Zé Dambrós, agora vai levar sua já conhecida voz, principalmente nos bairros da Zona Norte, para a tribuna da Câmara de Vereadores. Na terceira tentativa consecutiva, ele conseguiu uma vaga efetiva no parlamento com 2.294 votos, após ficar duas vezes na suplência.

Há 10 anos, Dambrós atua em uma das quatro rádios comunitárias de Caxias do Sul que funcionam na frequência da 87,5 FM, cada uma dedicada a uma região específica da cidade. A Rádio Legal, localizada na divisa dos bairros Pôr do Sol e Pioneiro, transmite programas diários comandados por Dambrós, focados em prestação de serviços, com divulgação de eventos beneficentes, articulação de doações e alerta a pais e mães para o período de inscrições na Educação Infantil, por exemplo. 

— Isso ajudou as pessoas a conhecerem mais meu lado comunitário, humanitário — afirma. 

O trabalho comunitário que acompanha Dambrós há pelos menos 25 anos teve início no talento para a música. Ele foi um dos vocalistas e compositores do conjunto gaúcho Os Galponeiros, com quem gravou seis CDs e se apresentou em incontáveis bailes no Estado, sendo que parte da agenda do conjunto era dedicada a causas sociais. 

De lá para cá, Dambrós ampliou o envolvimento coletivo. Há 14 anos, ele ajuda a coordenar o Mutirão de Natal, tradicional festa voluntária da Zona Norte. Há 12, promove bailes para a terceira idade aos domingos, primeiro no Clube Guarany, e mais recentemente no salão do bairro São José. Ele também já atuou na Associação de Moradores do Bairro Pioneiro e nos Círculos de Pais e Mestres das escolas Matteo Gianella e João Prataviera. Mas foi como coordenador do Orçamento Comunitário (OC) no governo de Alceu Barbosa Velho, entre 2013 e 2016, que Dambrós se aprofundou nas questões que afetam o cotidiano da população. 

— O OC me deu esse conhecimento de saber que muitas vezes a rua, o asfalto, pode esperar, mas chover dentro da sala de aula é pior. Além disso, eu conheci bem a cidade e aprendi a respeitar as lideranças, os presidentes de bairros. 

Vereador promete cobrança incisiva

Com a experiência no OC, Dambrós também aprendeu a falar com propriedade dos números e problemas do serviço público em Caxias, apontando onde pretende buscar melhorias. Ele destaca o apreço que tem pelo prefeito eleito Adiló Didomenico (PSDB), mas garante que fará uma cobrança incisiva pelas demandas da comunidade.

— Nós sabemos que a prefeitura tem um déficit, sabemos de toda a dificuldade. Mas não vou concordar com falta de paracetamol e remédio da pressão nas UBSs. 

E não é eu que vou cobrar, são as pessoas que confiaram em mim. Eu recebi muitas velas acesas para que desse certo a minha eleição, teve vizinha minha que jejuou. Eu tenho que dar como retribuição para a sociedade muita dedicação.

Uma das sugestões que Dambrós já apresentou a Adiló foi estabelecer um canal aberto entre secretários e lideranças comunitárias dentro da prefeitura, pelo menos uma vez por semana.

— O poder público tem que estar presente nas comunidades e trazer a comunidade para dentro do poder público. São eles que pagam nossos salários e eles que precisam ser valorizados porque trabalham de graça e estão servindo a sua comunidade. Não pode ser uma luta para um morador conseguir falar com um secretário — defende.

Além disso, promete levar o espírito coletivo para dentro do mandato na Câmara de Vereadores:

— A vida é feita de muitas mãos. Eu nunca vou elencar as coisas na primeira pessoa do singular. Tem que ter a comunidade do lado. Aquilo que eu for cobrar do Executivo eu vou levar junto o presidente de bairro, o diretor da escola, a coordenadora da igreja, o pastor, o padre. Eu tenho as lideranças do meu lado. Então eu vou cobrar com precisão e propriedade — afirma.

Quem é Zé Dambrós

  • Perfil: tem 56 anos, é coordenador da rádio comunitário Legal, na Zona Norte. 
  • Trajetória: foi coordenador do Orçamento Comunitário nos quatros anos do governo Alceu Barbosa Velho, entre 2013 e 2016. Disputou vaga na Câmara de Vereadores em 2012 e 2016, e ficou como suplente nas duas oportunidades. É vice-presidente do diretório municipal do PSB, partido ao qual é filiado desde 2005.
  •  Referência: “Frei Jaime Bettega, pelo trabalho social que ele desenvolve sem olhar para religião, para governo. Sempre admirei ele.”
  • Pessoal: É casado há 22 anos com Vanessa Varela Rabelo, com quem tem dois filhos, Guilherme, 21 anos, e Anelise, 17. Natural de São José do Ouro, no norte do Estado, Dambrós chegou a Caxias em 1980 e, antes de se dedicar à música gaúcha, trabalhou como doméstico, em transportadora e em uma indústria têxtil. O dom musical também já foi emprestado para jingles de campanhas eleitorais de José Ivo Sartori e Alceu Barbosa Velho. Em 2016, ao lado de Mário Michelon, compôs a música tema da Festa da Uva.

Propostas

  • Cultura: “Eu vou sugerir para a Secretaria de Cultura que o recurso da Lei Aldir Blanc que está em Caxias seja destinado aos artistas locais com menos burocracia. Por exemplo, nós temos mais de 50 grupos gaúchos que os integrantes não vivem só da música, são cabeleireiros, pedreiros, pintores. Quando precisa tocar um baile para arrecadar dinheiro para alguma ação social, são eles que tocam de graça para ajudar a melhorar a vida dos outros. Em contrapartida, vou sugerir que a Festa da Uva tenha um palco para os artista locais na degustação. Então o pagamento pode ser adiantado para esses artistas e eles assinam um termo para tocar na Festa da Uva em troca desse valor. Porque foram muito afetados pela pandemia.”
  • Quartel dos bombeiros da Zona Norte: “Temos uma missão que é reabrir o quartel do Corpo de Bombeiros da Zona Norte, que foi construído quando o (José Ivo) Sartori foi prefeito e quando foi governador ele conseguiu fechar por falta de efetivo. Para ajudar a construir e mobiliar, a comunidade fez rifas, jantares, e agora está tudo depredado, só sobraram as paredes. É uma dor para as pessoas que ajudaram. Eu já fui falar com o vice-governador, que é o Secretário de Segurança (Ranolfo Vieira Júnior), para que a gente ache uma forma de ter efetivo. Por exemplo, as 12 casas que pegaram fogo na divisa do Cânyon com o Belo (em novembro de 2019), se estivesse funcionando o quartel, talvez tivesse queimado seis. Além disso, já sugeri e vou batalhar para que ele seja um ponto de segurança para a Zona Norte, com canil, posto da Guarda Municipal e apoio para acidentes na Rota do Sol.”
  • Bancos sociais: “Já tenho o esboço de um projeto para regulamentar os bancos sociais, começando pelo Banco de Material de Construção, em parceria com o Sinduscon (Sindicato da Indústria da Construção Civil), a prefeitura e o Projeto Mão Amiga. A ideia é reutilizar tudo aquilo que sobra nas construtoras e destinar para as famílias que mais precisam. Aí tu desenvolve o social, o econômico e o ambiental. Depois, vem os bancos da agasalho, do mobiliário, do eletrônico. É importante articular o recolhimento e destinação dessas doações, e o poder público precisa ajudar nisso.”
  • Regularização fundiária: “Eu quero batalhar pela ampliação da pavimentação comunitária, vou sugerir uma mudança na lei para facilitar isso para as famílias. Claro que não se dá nada de graça, eles ajudam a pagar um pouco e têm muitas melhorias, não têm mais barro, poeira e o saneamento que a prefeitura coloca. Também quero estar atento à regularização fundiária porque tem muitas famílias vivendo sem estrutura, também para que a gente não tenha vários Primeiro de Maio no futuro.”
  • Centros comunitários: “Vou propor a abertura e ocupação efetiva dos centros comunitários para cursos, clubes de mães, grupos de capoeira, música. Tem 60 centros comunitários que precisam ser mais utilizados pela população.”

Fonte: Jornal Pioneiro